14 julho 2017

reclamam de ‘maldição’ em prédio do tríplex de Lula

Moradores reclamam de ‘maldição’ em prédio do tríplex de Lula

Edifício Solaris, no Guarujá, acumula problemas como funcionários demitidos, ameaças de processos trabalhistas e desvalorização

Edifício Solaris, na Praia das Astúrias, no Guarujá, endereço do tríplex que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à condenação em primeira instância  pelo juiz Sergio Moro na Operação Lava Jato, vive o seu próprio drama ou, como dizem alguns moradores e veranistas, o seu próprio “carma” e “maldição”.

O prédio, que virou uma espécie de “ponto turístico acidental”, e passou a ser chamado de “prédio do Lula” ou “prédio do tríplex do Lula“, coleciona uma série de problemas: funcionários demitidos, ameaça de processos trabalhistas, desvalorização dos imóveis, reformas que demoram mais de um ano, piscina interditada e reparos que custam mais caro do que a média do mercado porque “o prédio é famoso”.

A primeira vítima do tríplex foi o zelador José Afonso Pinheiro, demitido em abril do ano passado. Na ocasião, ele afirmou que sua demissão foi consequência de uma entrevista em que confirmou a presença de Lula e dona Marisa no Solaris. “Eu perdi o emprego que era o sustento da minha família e a nossa moradia. Portanto, não tem como eu não ficar feliz com a condenação do Lula”, disse. Pinheiro, que foi candidato a vereador nas últimas eleições, aguarda o resultado de um processo que abriu contra o edifício.
Há uma semana, oito funcionários do Solaris também foram demitidos — com o argumento de que a administração iria terceirizar todos os funcionários para cortar custos. “O motivo pode ter sido a terceirização, mas, desde que essa loucura do tríplex começou, quem administra esse prédio tenta inventar demissões por justa causa e ameaça não pagar nossos direitos”, contou a ex-funcionária Shirley Nascimento.
Outro porteiro demitido, que pediu para não ser identificado, afirmou que uma despedida, “nesse contexto”, faz “a gente imaginar coisas”. Ainda assim, ele não pretende processar ninguém. “O Solaris foi vítima da crise no país. Naquele prédio, a crise nos atingiu em cheio”, afirmou. Procurado, o síndico do Solaris, Paulo de Távora, garantiu que as demissões seguiram critérios puramente econômicos e a “administração do prédio está normal”.

Pesadelo

Os moradores do Solaris e vizinhos disseram torcer para “o pesadelo acabar” e a vida nas Astúrias voltar ao normal. Na praia, um grupo de amigas comentou o transtorno causado pela presença constante de curiosos e de jornalistas. Além disso, elas colocaram uma questão prática: “Com o tríplex vazio, e ele deve continuar vazio por muito tempo, o condomínio deve subir para compensar esse imóvel sem uso. Quem vai pagar o prejuízo? Ora, serão os moradores”, disse Leonor Consil, vizinha do Solaris. As vizinhas disseram que “sempre souberam que o tríplex era do Lula”.
O morador Pedro Pimenta apontou outro problema: “Agora, qualquer reparo, por menor que seja, custa os olhos da cara. Qualquer troca de piso, qualquer probleminha elétrico. Os prestadores de serviço cobram mais porque “esse é o prédio do Lula”.
Pimenta e outros moradores contaram que a ocupação no prédio, apesar das férias de julho, anda muito baixa e “os apartamentos estão vazios”. Corretores procurados disseram que pouca gente tem se interessado em alugar e “apenas curiosos interessados em entrar no prédio do Lula” têm aparecido. Os mesmos corretores disseram que os apartamentos já desvalorizaram cerca de R$ 200 mil. “Tudo isso se agravou porque nós tivemos uma reforma que demorou mais de um ano e nossa piscina ficou interditada nesse período”, reclamou uma moradora que preferiu não se identificar.

Turistas

Alheios aos problemas no prédio, turistas não cansam de se postar na frente do edifício para registrar uma imagem do “tríplex do Lula”. O segurança Waldeci Marcelino fez uma parada na calçada do Solaris para fazer selfies e provar para os amigos que estava pertinho de um “escândalo político”. Já o aposentado Anésio França, além das selfies, faz uma proposta: “Tombar o Solaris como um patrimônio histórico nacional”. Com certeza, os moradores discordam e preferem ser esquecidos
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Câmara da denúncia por corrupção

Os ‘fatos novos’ que podem atingir Temer durante férias da Câmara

Votação na Câmara da denúncia por corrupção contra o presidente será no dia 2 de agosto. Até lá, delações e nova acusação podem desgastá-lo ainda mais

Apesar da vitória do governo do presidente Michel Temer na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, com a aprovação de um relatório contrário à denúncia da Procuradoria-Geral da República que mira o peemedebista, o desfecho ideal ao Palácio do Planalto para a votação do texto no plenário da Casa não se confirmou.
O governo trabalhava para que o parecer do deputado federal Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) fosse apreciado pelos deputados rapidamente, até a próxima segunda-feira, mas, como o recesso parlamentar começa na terça-feira e seria difícil reunir o mínimo de 342 deputados para a abertura da votação, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acertou com os líderes partidários que a definição será no dia 2 de agosto, a partir das 9h.
Embora o discurso governista valorize o triunfo na CCJ, alcançado graças a 12 trocas de deputados com direito a voto na comissão, e empurre para a oposição a responsabilidade de reunir o quórum necessário, o Planalto receia que fatos novos possam desgastar ainda mais a imagem do presidente nas próximas duas semanas.
Veja a seguir os três principais riscos que Michel Temer sabe correr:

Delação de Eduardo Cunha

Conforme VEJA revelou na semana passada, a delação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha já tem 130 capítulos, pelo menos dez deles dedicados a relatar aos investigadores supostos crimes cometidos pelo presidente. O ex-deputado se dispõe a narrar histórias que mostram que Temer não só sabia dos esquemas de corrupção montados nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma como tinha poder de mando sobre eles, além de se beneficiar diretamente das propinas pagas por empresas parceiras do PMDB.
O acordo, que nos próximos dias entrará na fase decisiva de negociação, é visto pela Procuradoria-Geral da República como peça importante para compor as investigações das quais o presidente é alvo. No entender dos investigadores, como partícipe privilegiado da máquina de corrupção montada pelo PMDB no governo federal durante os anos de sociedade do partido com o PT, Cunha tem condições de trazer à luz elementos que possam ajudar a esquadrinhar a cadeia de comando do esquema.

Os representantes do ex-deputado já informaram aos auxiliares do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que, além dos relatos que complicam a situação de Michel Temer, ele promete aniquilar os dois ministros mais próximos do presidente: Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência).Delação de Lúcio Bolonha Funaro

O acordo de colaboração premiada negociado por Eduardo Cunha com a Lava Jato deve trazer de roldão a delação do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, responsável pela execução de grande parte dos negócios orquestrados pelo ex-deputado. Nas últimas semanas, Funaro vem atualizando os tópicos de sua proposta. VEJA revelou que um, em especial, é devastador para Michel Temer: segundo uma fonte da Procuradoria, ele confessa que recebeu da JBS para ficar calado, e afirma que os pagamentos foram feitos por ordem do presidente. A afirmação se encaixa à perfeição na narrativa do dono da JBS, Joesley Batista, e na linha de investigação de Rodrigo Janot.
Assim como Cunha, Funaro promete complicar ainda mais a vida de um dos peemedebistas de confiança do presidente: o ex-ministro Geddel Vieira Lima. Em uma prévia do que vai revelar em sua delação, o doleiro disse em depoimento à Polícia Federal no último dia 7 de julho que “fez várias viagens em seu avião ou em voos fretados, para entregar malas de dinheiro para Geddel Vieira Lima” e que essas entregas eram feitas numa sala reservada do hangar Aerostar, localizada no aeroporto de Salvador (BA), “diretamente nas mãos de Geddel”. Entre os motivos que levaram o ex-ministro à prisão, na semana passada, estavam as ligações que ele fez a Raquel Pitta, mulher de Lúcio Funaro, para monitorar o ânimo de Funaro em aderir à delação premiada. Geddel deixou a cadeia por ordem de um desembargador.

A denúncia contra corrupção passiva da Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer é uma das três possíveis que Rodrigo Janot pode apresentar a partir das delações do Grupo J&F. É que o inquérito 4483 do Supremo Tribunal Federal (STF) também investiga o peemedebista pelos crimes de obstrução de Justiça e organização criminosa, apurações que, pela estratégia de Janot de desmembrar as denúncias, podem levar a novas acusações formais contra Temer durante o recesso parlamentar.
A tese de que o presidente consentiu com pagamentos da JBS a Eduardo Cunha e Lúcio Funaro para que não aderissem a delações premiadas, baseada inicialmente na célebre frase “tem que manter isso, viu?”, dita por Temer, por exemplo, ganhou força após a perícia da Polícia Federal no áudio da conversa entre o peemedebista e o empresário Joesley Batista.
Novos trechos da gravação decifrados pela perícia mostram que, quando estavam discutindo a situação de Cunha, pouco depois de Joesley dizer “todo mês”, interpretado pela PGR como referência a pagamentos mensais, Michel Temer questiona: “E o Eduardo também?”, ao que o delator confirma: “também”.
Se as contas do Planalto dão de barato que a base aliada conseguirá barrar a denúncia por corrupção passiva no plenário da Câmara, onde precisa de 172 votos, não é certo que os parlamentares aceitem assumir o desgaste de defender Temer em outras denúncias, sobretudo diante do possível desgaste com as delações de Cunha e Funaro e o conteúdo de novas acusações da PGR.