29 agosto 2017

Menudo do Maranhão

‘Menudo’ do Maranhão, André Fufuca ganhou projeção na Câmara sob proteção de Cunha

Deputado vai enfrentar pauta extensa e desconfiança de colegas na presidência interina da Casa

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Foto: Reprodução

O “Menudo” do Maranhão chegou lá. Alçado ao posto de presidente da Câmara pelos próximos oito dias devido à viagem à China do presidente Michel Temer e do primeiro vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), André Fufuca (PP-MA) ganhou o cargo de segundo vice-presidente da Câmara depois de vencer duas disputas: uma dentro do próprio partido e outra em plenário, quando derrotou o correligionário Dudu da Fonte (PE). E, claro, sua projeção na Casa se deve também ao “padrinho” Eduardo Cunha.

Enquanto assume o lugar de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que substituirá Temer no Planalto, Fufuca, com apenas 28 anos, terá que dar conta de conduzir três votações tão polêmicas quanto importantes: Refis,a nova taxa de juros do BNDES( TLP) e duas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) da reforma política. Colegas do deputado não estão nada confiantes de que ele terá êxito na missão.

– O ideal é que fosse o Rodrigo (Maia) – pontuou o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG).

– Se o Rodrigo (Maia), que conseguiu fazer uma grande coalizão, não conseguiu concluir a votação da reforma, imagina o Fufuca – concordou Júlio Delgado (PSB-MG).

Eleito para o primeiro mandato de deputado federal em 2014, Fufuca respirava política na família desde pequeno. O pai, Fufuca Dantas, é o atual prefeito de Alto Alegre do Pindaré. Foi do pai, cujo nome de batismo é Francisco, que o deputado herdou o apelido. No Maranhão este é um apelido comum para Francisco.

Fufuca filho militou no movimento estudantil e, ainda como aluno do 6º ano de Medicina em São Luis, disputou e foi eleito para o primeiro mandato de deputado estadual, pelo PSDB. Assumiu como o deputado estadual mais novo do país com 21 anos. Depois passou pelo PEN e em seguida se filiou ao PP, um dos principais partidos do centrão.

PELAS MÃOS DE CUNHA

Quando foi eleito deputado estadual, integrou um grupo de jovens deputados apelidado de “Menudos”. Ele era o Menudo mais novo. Como não tem um grupo forte que servisse de guarda-chuva no Maranhão, assim que chegou à Câmara procurou o apadrinhamento do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, com quem manteve uma relação bastante próxima. No início do ano, chegou ao cobiçado posto de segundo vice-presidente, mesmo sendo novato, pelas mãos do padrinho.

Já com Cunha fora da Câmara, ele se beneficiou de um acordo entre vários partidos pela reeleição de Maia à presidência. Por esse arranjo, o PMDB ficou com a primeira vice-presidência e o PP teria o direito do terceiro cargo mais importante da Mesa Diretora. Apesar de novo, no meio político é visto como um parlamentar estudioso e aplicado.

– É um político agregador, transita bem entre os diferentes partidos. Foi por isso que conseguiu se eleger para um cargo na Mesa em seu terceiro ano de mandato – elogia Efraim Filho, líder do DEM na Câmara.

A intimidade com Cunha, no entanto, o fez protagonizar um momento de embaraço diante dos colegas. Durante um acalorado debate sobre a cassação de Cunha no Conselho de Ética, no ano passado, Júlio Delgado tornou público o apelido pelo qual Fufuca chamaria Cunha: “Papi”, provocando uma reação furiosa do colega. Chamando Delgado de “moleque”, Fufuca respondeu:

– Não queira macular minha imagem pela minha juventude. Vossa Excelência é o exemplo de que até os canalhas envelhecem. Nesta Casa ninguém me viu usar de ato de bajulice, até porque venho de um estado em que usar esse termo “papi” é até afeminado – reagiu indignado o deputado maranhense.

O fato é que ele deu um jeito de não votar no dia em que a cassação de Cunha foi votada no plenário da Câmara. Não bastassem as espinhosas votações que terá de presidir, uma segunda denúncia do procurador geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer pode aterrissar na Câmara justamente durante a interinidade de Fufuca. Caso isso aconteça, ele promete não repetir a polêmica atuação do conterrâneo Waldir Maranhão (PT do B), que na presidência, chegou a anular por algumas horas o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

– Espero não ser instrumento de instabilidade nem para o Congresso nem para a nação. A gente precisa de estabilidade nesse momento. Se a segunda denúncia vier enquanto estiver na presidência da Câmara, vou seguir o regimento, sem causar qualquer tipo de embaraço – disse ao GLOBO.

Sobre os que desconfiam de seu desempenho na presidência da Casa por ter só 28 anos, pede:

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– Tenham paciência e me julguem ao final do nono dia, não pela minha idade, mas pelo meu trabalho. Já presidi sessões em outras vezes e sempre tive um relacionamento cordial com todos, sempre me trataram com respeito, nunca encontrei má vontade contra minha pessoa na presidência. Diálogo é sempre a melhor saída.

Dono de bochechas rosadas e fartos cabelos pretos, estilizados com uma franja, Fufuca superou a alcunha de “Menudo”, mas na Câmara Federal também é alvo de brincadeiras de colegas.

– Essa bochecha dele com o cabelo de índio chamam a atenção. Vira e mexe alguém manda um meme no grupo – zomba Efraim.


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